terça-feira, julho 31, 2012

Ai-salaka: ai-fuan ka samea ? Salaca: fruto ou réptil ?

O fruto da palmeira salaca (Salacca zalacca ) aparece à venda pelos mercados de Dili. Este fruto é muito consumido também na Indonésia. Cultiva-se desde a Tailândia até Timor.
Esta palmeira é pouco alta, muito espinhosa e apresenta muitos caules a partir da base. As folhas têm forma de pena e são espinhosas. Os frutos são drupas alaranjadas ou acastanhadas, com a superfície revestida de escamas. No interior contêm 1-3 sementes envolvidas num tecido amarelo pálido comestível. As sementes são de secção triangular e compactas.
 Em Timor-Leste encontramos exemplares da salaca em Dare (Missão Lopes) e em Railako, junto à estrada para Ermera.
Esta palmeira desenvolve-se bem até aos 500 m de altitude e precisa de 1700 a 3100 mm de chuva anuais. Como as suas raízes são muito superficiais, vai bem em  terras frescas nos  solos arenosos de zonas baixas, junto aos cursos de água. Nas zonas de estação seca é por isso conveniente regar. Coisa rara no mundo das palmeiras: gosta da sombra de outras árvores.
Produz frutos a partir dos 3 ou 4 anos de vida, até aos 50 anos ou mais. As salacas podem ser cultivadas por sementeira no local definitivo, colocando-se 2 a 5 sementes num buraco com 5 cm de fundura. Também podem ser cultivadas num viveiro e transplantadas para o campo no início da estação das chuvas.
As sementes tiradas da fruta fresca germinam rapidamente, por vezes até à superfície do solo, se as condições forem húmidas e com bastante sombra. Fora do fruto as sementes morrem rapidamente.


Fruto inteiro mostrando a casca escamosa
(foto do autor)

Fruto e semente
(foto do autor)


Normalmente cultivam-se as salacas em sistemas horto-frutícolas mistos, com bananeiras, mangueiras, fruta pão e jacas. As plantas são dióicas, pelo que devemos plantar 2 a 20% de machos dispersas por meio das plantas femininas.  Plantam-se com compassos de 2 até 6 m.
Até as folhas das palmeiras ensombrarem bem o terrreno tem que se mondar para evitar a morte das jovens plantas. Conforme vai crescendo a palmeira perde vigor, pelo que os agricultores puxam o espique para o solo, para que as raízes aéreas que se formam junto à coroa das folhas enraizem.
Em muitas zonas faz-se a polinização manual das flores femininas, tal como na cultura da baunilha. A poda dos frutos pode ser necessária para que se desenvolvam melhor.

Para além de serem consumidos frescos, na Indonésia processam os frutos da salaca de várias maneiras: conservados em calda de açúcar (manisan salak), em pickles (asinan salak) e em salada de frutos ainda verdes com especiarias (rujak). Os frutos maduros podem ser enlatados.

A polpa da salaca é fresca e crocante. O seu sabor parece uma combinação de maçã, ananás e banana.
Na Indonésia, onde a cultura é exclusivamente uma produção de pequenos agricultores, só uma pequena parte da produção é exportada, fresca, enlatada ou caramelizada, principalmente para ou através de Singapura.

A colheita faz-se quando os frutos atingem 5-7 meses, ou antes caso a chuva promova o desenvolvimento de fungos. Apanham-se os frutos cortando o ramo com uma faca em forma de anzol. Enquanto nas zonas mais secas a produção é sazonal, naquelas onde se rega ou as chuvas ocorrem todo o ano a produção é mais regular. Um pomar de salacas produz aproximadamente 5 a 15 t/ha/ano.
Os frutos não podem ser colhidos completamente maduros. Aguentam-se 2 a 3 dias em cestos de bambú, ou no máximo uma semana em condições de calor e humidade. A mínima lesão implica o apodrecimento rápido. Conservam-se durante 1 a 2 semanas se mantidos a 12ºC, mas os de algumas cultivares melhoradas têm períodos de conservação mais alargados, podendo ultrapassar 1 mês.

Nas cidades indonésias tem aumentado a procura por este fruto e os preços são altos. Após os primeiros anos sem produção, um pomar de salacas aguenta-se com relativamente poucos cuidados ou despesas. Todavia é dificil exportar esta fruta pois estraga-se rapidamente. Presentemente estuda-se a propagação vegetativa das plantas de alta qualidade.
Em Timor-Leste é provável que esta cultura encontre as melhores condições nas zonas mais húmidas da costa sul, integrada em eco-turismos que promovam o consumo de produtos locais.

Para saber mais:
Fruticultura Tropical. J. E. Mendes Ferrão, volume III, IICT, Lisboa, 2002.
http://www.worldagroforestry.org/

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