segunda-feira, outubro 20, 2008

O Trigo em Timor-Leste

O Trigo

O trigo é uma importante cultura alimentar, particularmente na Europa, América e no Médio Oriente. Nas zonas tropicais cultiva-se como cultura de altitude, geralmente integrando sistemas agrícolas com bovinos de leite. Existem disponíveis muitas variedades, para as diferentes altitudes. Geralmente a cultura só vai até aos 2800 metros. Os principais países tropicais produtores de trigo são a Índia, o Paquistão, Brasil e o Egipto. Em Timor-Leste o trigo é cultivado em pequenas parcelas, nas terras altas do interio, particularmente Aileu, Gleno, Ermera, Ainaro e Laclubar, onde os declives são as principais restrições a esta cultura..Estima-se em 11.000 há a área potencial para esta cultura em Timor-Leste (Luz, 2003).


Rotação

Três anos de trigo seguidos de três anos de pastagem para o gado pode ser uma rotação adequada. Se a rotação incluir culturas hortícolas tanto melhor, especialmente se destas fizerem parte leguminosas (feijão, amendoim, etc….).

Selecção das sementes

Os agricultores devem usar semente certificada de boa qualidade obtida nos serviços do Ministério da Agricultura ou numa empresa de confiança. A semente certificada tem as seguintes características:
a) Não contém sementes de plantas infestantes
b) Tem grãos saudáveis, sem estarem partidos ou esmagados,
c) São de uma variedade que assegura a maturação de todas as plantas ao mesmo tempo

As sementes devem ser misturadas com Aldrin ou Dieldrin para ficarem protegidas contra as doenças do solo. O tratamento com cobre também poderá ser necessário em algumas zonas, onde exista deficiências neste elemento.

Fertilizantes

A quantidade de fertilizante aplicada depende do tipo de solo, da cultura anterior e da fertilidade da terra no momento da instalação da cultura. Um teste ao solo pode ser efectuado de modo a estabelecer um plano de adubação adequado. Geralmente aplicam-se entre 100 e 160 Kg de um adubo contendo um terço de azoto e dois terços de fosfatos. Os estrumes bem decompostos e as folhas de árvores leguminosas (como o ai-santuco ou albizia das molucas) também são uma boa opção.

Preparação da terra

Alguns agricultores queimam as palhas e o restolho depois das colheitas. Isto torna a lavoura mais fácil e destrói muitas pragas da cultura. Todavia, como os solos são pobres, estes resíduos devem ser incorporados no solo, dentro do possível, de modo a aumentar o seu teor em matéria orgânica e melhorar a sua estrutura.
Nos terrenos com restolho a preparação do terreno deve começar 1-2 meses depois das colheitas. Revolve-se a terra em profundidade quer manualmente ou , se houver tracção mecânica ou animal, com uma charrua . De seguida desfazem-se os torrões maiores. Se se dispuser de tractor ou de tracção animal fazem-se duas ou mais passagens com um vibrocultivador ou grade de bicos, respectivamente.
No primeiro ano de trigo deve-se lavrar o terreno pelo menos 4 a 6 meses antes da sementeira. Desta maneira assegura-se a mineralização da matéria orgânica e a conservação da humidade do solo. Neste período enterraram-se as ervas que vão nascendo. É de referir que a Embrapa do Brasil desenvolveu um semeador directo por tracção animal, adequado aos pequenos agricultores. Neste período em que a terra permanece de alqueive aumentam os riscos de erosão por grandes chuvadas. Isto é ainda mais significativo se tivermos em conta que o trigo se cultiva em Timor principalmente na zona de Aileu e circundantes, onde os declives são acentuados. Torna-se muito importante por isso proceder à construção de socalcos ou terraços, para instalar a cultura.



Campo de trigo na zona de Aileu (Foto de Eng. João Gomes)

Sementeira

A sementeira deve fazer-se cedo ao começo da estação das chuvas, especialmente para as variedades de ciclo mais longo. A profundidade de sementeira é de 5 – 8 cm. A densidade de sementeira varia com as variedades. As de maior capacidade de afilhamento devem ter densidades de sementeira inferiores. Devem ser seguidas neste caso as indicações dos fornecedores.

Falta de cobre

Algumas áreas podem apresentar falta de cobre no solo. Para corrigir isto envolve-se a semente com 1 Kg de oxicloreto de cobre por 100 Kg de semente. Pulveriza-se ainda a cultura já desenvolvida com o mesmo produto na dose de 1 Kg/há, geralmente misturado com herbicida. A pulverização com cobre pode ser feita quando cultura chega aos 2 meses.

Controlo químico das infestantes

Para beneficiar do uso de herbicidas o agricultor já deve ter uma certa formação técnica. Os pesticidas devem ser aplicados de acordo com as recomendações do fabricante. E de acordo com as espécies de infestantes que se pretendem combater. É fundamental um bom aconselhamento técnico nesta área.

Colheita

Em Timor a colheita do trigo é feita manualmente com uma faca especial ou foice (tudik), tal como no caso do arroz. Isto deve ser feito quando a as sementes já ficaram bem duras. Depois fazem-se molhes e debulha-se quando as plantas já perderam mais humidade.

Principais pragas

Piolho do trigo (Schizaphis graminum)
Alimenta-se dos caules e das folhas, bem como das flores. Propaga vírus desta cultura. O controlo faz-se com malatião, diazinão, Dimetoato ou Formotião.

Nematocerus spp.
Estes insectos consomem as folhas do trigo. No estado de larva alimentam-se das raízes e das sementes em germinação. Deve-se fazer pulverizações com Endosulfan ou Fenitrothion .

Mosca da cevada (Hylemya arambourgi)
A larva desta pequena mosca come o caule das espigas. O combate passa por envolver a semente com Aldrin ou Dieldrin.

Ferrugem da folha (Puccinia recôndita)
Este fungo é mais comum nas altitudes mais baixas. Surgem nas folhas pequenas lesões circulares castanhas, que depois mudam para negro. Para combater esta doença usam-se variedades resistentes.

Ferrugem amarela (Puccinia striiformis)
Surgem borbulhas amarelas em linhas paralelas, tanto nas folhas como nas espigas. Devem usar-se variedades resisitentes a esta doença.

Ferrugem negra (Puccinia graminis)
Surgem nas folhas e nos colmos pústulas longas de cor castanho escuro. Evita-se esta doença pelo uso de variedades de trigo resistentes.

Septoriose (Leptosphaeria nodorum)
Este fungo ataca sobretudo no tempo húmido. Surgem marcas castanhas nas sementes e as folhas enrugam. Deve-se praticar boas rotações para evitar esta doença.

Leptosphaeria herpotrichoides
Surgem manchas castanhas nas folhas e estas acabam por secar. Pratica-se uma boa rotação para evitar esta doença.

Mancha amarela ou mancha bronzeada (Pyrenophora trichostoma)
Este microorganismo desenvolve pintas castanho claras nas folhas. Deve usar-se uma rotação adequada.

Pé negro (Ophiobolus graminis)
É um fungo parasita que se transmite pelos resíduos da cultura que ficam na terra. O ataque começa pelas raízes das plantas jovens e continua pela base do caule. As espigas aparecem esbranquiçadas. Dá-se a queda da planta.
Devem-se praticar rotações longas, assim como proceder a lavouras profundas após a queima das folhas e restolhos para impedir a passagem da doença à cultura seguinte.

Cravagem (Claviceps pupurea)
Forma-se uma massa púrpura ou negra nas espigas. Este fungo só é evitado preventivamente: lavrar em profundidade e praticar uma rotação com milho, feijão ou ervilhas.

Doenças virais
O crescimento da planta é atrasado e formam-se nas folhas listas amarelas ou castanhas. Estas também podem encaracolar e enrugar. Evita-se estas doenças com insecticidas que matam os insectos que carregam os vírus. Também não devemos usar sementes de campos infectados.


Para saber mais:

Luis Miguel Pinheiro da Luz. Análise da aptidão cultural de Timor-Leste utilizando um Sistema de Infomação Geográfica. Tese de Mestrado. Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, 2003.

Joaquim André Sampaio. ACultura do Trigo. Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação. Lisboa, 1990.

Ian MacDonald e John Low. Tropical Field Crops.