quinta-feira, maio 04, 2006

A Agricultura em Timor Leste

As montanhas...
O relevo de Timor Leste é bastante vigoroso. Ao contrário das restantes ilhas da Insulindia suas vizinhas, Timor nasceu do choque das placas Australiana e Euro-asiática e não tem origem vulcânica, mas sim tectónica (enrugamento da crosta).
Aparentemente a ilha de Timor continua a sua elevação das profundezas do mar.
As consequências deste fenómeno na agricultura são evidentes, pois os fenómenos erosivos são omnipresentes, e a acção do Homem dificilmente não os agrava. Os solos são, de modo geral, derivados de xisto e outras rochas sedimentares e têm forte vocação florestal. Uma notável excepção é constituida pelas rica planícies aluviais da costa sul.

... e o litoral
Outra consequência prática deste relevo acidentado é a dificuldade da manutenção de um sistema viário eficiente. O clima tropical característico de Timor, com as suas fortes chuvadas, torna tudo ainda mais dificil. As estradas existentes são, assim, vitimas fáceis das avalanches, deslizamentos de terreno e cursos de água torrenciais. Trata-se de um entrave importante ao desenvolvimento agrícola e nacional, contribuindo fortemente para o isolamento das comunidades rurais. Na figura do lado, podemos observar uma das raras rectas existentes nas estradas timorenses. As melhores estradas são estas das planicies do litoral norte, principalmente as que ligam as duas maiores cidades, Dili e Baucau. As culturas do café, na zona montanhosa ocidental de Ermera, e do coqueiro e do arroz, na costa sul, serão certamente benificiadas uma vez melhorados os acessos à capital, na costa norte.

Dare
Nesta imagem pode-se observar a ilha de Ataúro na linha do horizonte e a cidade de Dili lá em baixo, na planície do litoral norte. Estamos na estrada que nos conduz a Dare, localidade das magníficas montanhas a norte de Dili. A beleza paisagística é surpreendente. Ao largo, e acompanhando Ataúro, as ilhas indonésias de Alor e Wetar.
Como nota de interesse saliente-se o facto dos pequenos agricultores da zona de Dare terem desenvolvido pequenos negócios de floricultura em vaso, aproveitando o seu posicionamento junto à estrada e a proximidade dos citadinos. Refira-se ainda o refrescante clima de Dare, que restabelece o ânimo a todo o viajante que tenha saído do calor de estufa da capital timorense.

As madres do cacau (Paraseriantes falcataria)
Ao recém-chegado a Timor Leste, a subida a Dare compreende igualmente o contacto com outra importante componente da agricultura timorense: a madre do cacau, ou albizia das molucas. Com a sua espectacular copa estratificada, contribuem para o exotismo da paisagem timorense. São omnipresentes nas zonas montanhosas do café, apesar de estarem a sofrer importantes baixas. Fundamentais para sombrear os rústicos cafezeiros de Timor, torna-se necessário arranjar o que as substitua. Os esforços da Missão Agrícola Portuguesa concentram-se na Leucaena leucocephala. A situação é ,contudo, preocupante.
Estes mastodontes vegetais têm importante papel na conservação dos solos, logo do sistema de produção de café timorenses, assim como das estradas. A pesar da grossura dos seus troncos a Paraseriantes falcataria (ex-Albizia mollucana) parece ter madeira de esferovite, tal a sua leveza. Originária do Sudeste Asiático também se cultiva na Indonésia para a produção de papel. A sua folhagem possui bom teor azotado e palatabilidade razoável, pelo que pode ser usada como forrageira em agro-florestação. Em Timor entra na dieta dos cavalos. É uma leguminosa e fixa quantidades consideráveis de azoto.